Girma Wake: Um “guru” na aviação africana

Girma Wake. Quando se fala neste nome poucos sabem de quem se trata. Mas os que andam nos meandros da aviação civil sabem de quem se fala. De um grande homem, de um gestor, mas sobretudo um homem ousado no que diz respeito à aviação.

Recentemente, esteve em Maputo a convite da nova Direcção-Geral da LAM. Participou na conferência organizada pelos Aeroportos de Moçambique e orientou uma palestra para trabalhadores da LAM.

No seu discurso directo e objectivo, Girma defende a planificação seguida de aplicação. “Quando falamos de aviação, antes de mais, devemo-nos sentar e estabelecer um plano. Um plano que nos permita delinear onde e como queremos estar dentro de cinco, dez, vinte anos. Depois, as pequenas coisas irão funcionar naturalmente em função dos resultados esperados”, explicou o executivo da indústria da aviação.

Foi fundamental para o alavancamento de algumas das companhias aéreas africanas por onde passou. “É importante trabalhar em equipa porque todos devem sentir-se parte da materialização dos planos para que contribuíram. O gestor não é o implementador dos planos. Ele é o impulsionador, o aglutinador dos trabalhadores. Trabalhei em equipa para obter resultados satisfatórios para todos.”

Focando a actual situação da LAM, Girma opina: “Estava a falar com o Director-Geral e disse-lhe que se pretendem alavancar a LAM, devem esquecer os planos de aquisição de pequenas aeronaves. Devem ‘pensar grande’, sentando-se com o Governo para esboçar um plano ideal e exequível. O Governo não deve interferir na gestão, mas deve financiar”.

Para Girma não basta ter um plano “Recorde-se que a quantidade não é qualidade. Se não houver quadros capacitados, façam temporariamente uma importação de especialistas que ajudem a estabilizar a empresa, enquanto se vão formando quadros locais para estarem capacitados. Tendo tudo isto em marcha, e com o apoio do Governo, o céu não será o limite”, assegura.

A capitalização dos recursos humanos é extremamente importante. “Por vezes deixamos a equipa na poeira, tomando todas decisões, como gestores que somos. Isso é errado. É preciso envolver todo staff de forma a saber estimulá-lo. Podemos comprar airbus, mas se não tivermos as pessoas certas não teremos os resultados desejados. Não podemos reconhecer da mesma forma um trabalhador que produz muito bem com aquele cujos resultados são negativos.”

Segundo o executivo, numa companhia de aviação todos desempenham papel preponderante e “há interligação e trabalho em cadeia. Aquele que limpa o chão, limpa as cadeiras do avião e do escritório, é parte integrante e é uma figura a ter em conta. Imaginem termos aeroportos grandes, muitos aviões, mas com o chão e casas de banho sujas?”

Há alguns anos, a ousadia demonstrada pelos gestores da Ethiopian Airlines, dos quais fazia parte, tornou-os alvo de contestação por parte de algumas companhias africanas.

Enquanto uns criticam a liberalização do espaço aéreo, Girma defende a ideia contrária e explica porquê: “A abertura do espaço aéreo em África foi a melhor coisa que nos aconteceu. Não interdita a participação, impulsiona a competitividade. Se alguém falir a sua companhia porque não consegue ombrear com as outras num espaço aberto significa que é um perdedor. Apenas as companhias preparadas é que ganham no espaço aéreo liberalizado.”

Um Homem Ousado

Apaixonado pela aviação, mundo em que ingressou em 1965, através da Ethiopian Airlines, Girma Wake assinala 53 anos de carreira e diz que se o questionassem hoje, sobre em que ramo de actividade gostaria de trabalhar, responderia sem pestanejar que é na aviação. “Como africano, o meu sonho é ver as companhias africanas a unirem-se e a trabalharem juntas. Essas companhias não estão a competir. Devem unir-se e partilhar experiências”, sugere.

Girma foi um dos primeiros etíopes a ascender na hierarquia executiva daquela companhia aérea. Depois de trinta anos, abandonou a companhia e seguiu outros caminhos. Entretanto, em 2003, Seyoum Mesfin, presidente da Ethiopian Airlines e então ministro etíope das Relações Exteriores, ofereceu a Girma, que estava na  Gulf Air, a posição de CEO da Ethiopian Airlines.

Girma Wake, que dinamizou igualmente a ASKY Airlines do Togo e posteriormente a RwandAir, da qual foi PCA até 2017, considera indispensável a ousadia - atitude e pensamento desejáveis quando se trata de aviação.

“Temos de ‘pensar grande’ e ‘implementar grande’. Foi assim que fizemos com a Ethiopina Airlines, que é uma referência em África. Há uma forte contribuição do staff que segue uma estratégia desenhada. E uma coisa que não deve ser descurada e que é o cometimento do Governo na ajuda para a materialização da estratégia”, refere o gestor.

Maputo, aos 01 de Outubro de 2018